Entrevista a Duarte Caro de Sousa, director-geral da Ikaros-Hemera

O blog Energia Solar teve a oportunidade de entrevistar Duarte Caro de Sousa, director geral da Ikaros-Hemera,  empresa que se dedica ao fornecimento e instalação de soluções fotovoltaicas de média e grande dimensão.

Qual a importância do sector da energia solar fotovoltaica em Portugal?

A energia fotovoltaica começou a ser desenvolvida em Portugal em 2008. Desde então, foram instalados no nosso país quase 200 MW. Actualmente, a produção energética das micro, mini e macroproduções instaladas no nosso território, representam apenas 0,5% do total de energia produzida em Portugal. O sector que, até este ano tinha vindo a crescer, estagnou devido à contracção da economia e inerentes medidas governamentais. No entanto, há uma tendência para as empresas estrangeiras investirem no sector, o que se revela positivo neste momento da história económica do país.

O Governo tem sido severo com as políticas ambientais, de que maneira isso se reflecte no mercado?

De facto, o governo reduziu significativamente as quotas de potência a instalar anualmente. Na miniprodução passámos de 25MW a 10MW por ano até 2020, e na miniprodução de 50 MW a 30 MW por ano até 2020. O seu compromisso com a União Europeia foi revisto pela fraca capacidade de financiamento que o país atravessa no momento.

Por outro lado, Portugal tem vindo a beneficiar continuamente do avanço da tecnologia fotovoltaica nos últimos anos. A tecnologia amadurece e permite a redução das tarifas, que se traduz directamente na diminuição do custo de produção por KW/hora e na menor necessidade de incentivos. Basta comparar os valores das tarifas: em 2008 o custo por KW/hora era de €0,65, e no último leilão de licenças, o preço estava reduzido a €0,18. A tendência é que a tarifa continue a baixar, até ficar equiparada ao custo de produção de energia. Especialistas na matéria preveem que vamos chegar à paridade de rede nos próximos 2 a 3 anos. Esse momento vai revolucionar o sector, mas até lá, vamos continuar muito dependentes da atribuição de incentivos por parte do governo. Ainda assim, podemos dizer que a legislação ainda é favorável, porque permite um retorno em pouco mais de 5 anos.

Como perspectiva o futuro do sector no nosso país?

A recessão económica não deixa antever que o sector cresça como poderia crescer nos próximos anos. O país poderia ser uma potência neste sector. No entanto, estou confiante que Portugal vai potenciar a vantagem competitiva de ser o país europeu mais horas exposto a um recurso natural inesgotável: o sol.

Vários factores evidenciam que, mais tarde ou mais cedo, a energia solar será uma das principais e mais eficientes fontes de energia do país; a abundância do recurso; os custos elevados da energia convencional; a independência energética; a descentralização da produção que não sobrecarrega a rede e diminui custos de distribuição; e a certeza de que os recursos fósseis são limitados, e um dia vão acabar.

Ainda nesta década, Portugal deverá apostar em políticas e estratégias que incentivem para além da eficiência energética, a produção descentralizada de energia em que o solar fotovoltaico tem um papel fundamental. Defendo que um dia, cada um deverá produzir a sua própria energia. É entusiasmante pensar que seremos independentes, eventualmente até exportadores de energia e, em simultâneo, ecológicos.

Como está a evoluir o mercado lá fora?

O crescimento exponencial do mercado a nível mundial explana-se em números. No ano passado, o total de potência instalada no mundo ultrapassava os 69 GW, potência que representa 85 TW de electricidade todos os anos. Para se ter uma noção do que este valor significa, o volume desta energia é suficiente para satisfazer as necessidades de 20 milhões de lares. Só em 2011 foram instalados 30 GW de potência fotovoltaica a nível mundial, quase o dobro da potência instalada em 2010, 16 GW. Dos 30 GW instalados em 2011, 20 GW foram em território europeu. Fora do continente europeu, os países que mais tem investido no sector são a Austrália, China, Índia e EUA.

A energia solar fotovoltaica é hoje vista como uma das energias renováveis do futuro. É a terceira fonte de energia renovável mundial, sendo apenas ultrapassada pela energia hídrica e eólica.

Que ilações podemos tirar quando comparamos o sector da energia fotovoltaica em Portugal com os restantes países europeus?

No ranking europeu, Portugal posiciona-se como o 12º país com mais potência energética instalada no território e em 16º no raking da potência instalada por habitante. Se tivermos em consideração que somos o país europeu mais horas exposto ao sol, percebemos que temos de tomar uma atitude e seguir os exemplos dos motores do sector fotovoltaico na Europa, como a Alemanha e Itália.

Em 2009 havia 5 tipos de incentivos governamentais para produção de energia; feed-in-tarifs, benefícios fiscais, redução do IVA, certificados verdes, apoio no investimento inicial e outros apoios financeiros. A legislação portuguesa prevê actualmente apenas um destes incentivos, o feed-in-tarifs. É curioso pensar que uma Estónia, que tem muito menos recurso solar, goza de 3: feed-in-tarifs, benefícios fiscais e redução do IVA.

Acredito que o caminho é por aí. Investir através de diferentes incentivos. Temos de deixar de pensar a curto prazo e seguir o exemplo da Alemanha que decidiu encerrar as suas 17 centrais nucleares até 2022 e apostar definitivamente nas energias renováveis por forma a garantir que em 2050, 80% das gerações de energia vem de fontes renováveis.

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